sábado, 15 de junho de 2013

Flamengo comemora 30 anos do Mundial


Flamengo comemora 30 anos do Mundial

Jornal do BrasilCarlos Caroni
Rio, 13 de dezembro de 1981. Há exatos 30 anos, o Flamengo goleava o Liverpool, por 3 a 0, no Japão, e se tornava o segundo time brasileiro a conquistar o campeonato mundial [o primeiro foi o Santos]. Em plena madrugada, bandeiras vermelhas e pretas passaram a tremular por toda a cidade. Na Zona Sul, uma multidão, que não distinguia classe social, credo ou raça, seguia em uma espécie de procissão religiosa pelas ruas. Buzinas faziam o papel de sinos e acordavam aqueles que ousavam dormir em um momento tão importante. Os gritos de 'Mengo' ecoavam como mantras repetidos exaustivamente por seus fiéis. E Zico, àquela altura, já havia sido elevado a Deus. Pela única vez na história, graças a um milagre chamado Flamengo, Rio de Janeiro e Tóquio compartilharam o mesmo fuso horário.
Mas não era somente no Brasil que a torcida festejava. No Japão, atletas criados dentro da Gávea descobriam a sensação de tornar-se parte da história do clube que sempre amaram. Caminho inacreditável para alguém que, como Adílio, pulou os muros da sede antes de integrar um dos maiores times de todos os tempos. Aliás, mais que um time. Uma família que brincava de jogar futebol e que vive bons momentos até hoje. 
Zico fala sobre a campanha na Libertadores
Um baque
Antes de conquistar o mundo, porém, os corações flamenguistas foram tomados pela dor. Dor muito pior do que a imposta pelas pancadas distribuídas pelo zagueiro Mário Soto, do Cobreloa, durante as finais da Libertadores. Aquele time, que não tinha o hábito de ser derrotado dentro das quatro linhas, foi obrigado a lidar com o inconsolável sentimento da perda. No dia 28 de novembro, aos 42 anos, o ex-treinador Cláudio Coutinho morria afogado enquanto praticava pesca submarina nas Ilhas Cagarras, em Ipanema. Cinco anos depois da partida precoce do habilidoso meia Geraldo, vítima de complicações após uma cirurgia para a extração das amígdalas, milhões de rubro-negros voltavam a ficar órfãos de um dos seus ídolos.
"Foi um grande baque, um companheiro da nossa família tinha falecido. Ele tinha ido para os Estados Unidos, mas continuávamos muito próximos. Quando recebemos a notícia ficamos todos muito silenciosos, tristes. Perdemos um grande professor, o homem que idealizou aquele time. As palavras dele ecoam até hoje na minha mente", lembra um emocionado Adílio.
Milhares acompanham o sepultamento do corpo de Cláudio Coutinho
Milhares acompanham o sepultamento do corpo de Cláudio Coutinho
O tempo para tentar aplacar a tristeza praticamente não existiu. A final do Carioca estava marcada para o dia seguinte ao funeral e o Vasco esperava sedento pela chance de interromper o ciclo de conquistas rubro-negras. Era preciso levantar a cabeça. Os jogadores sabiam que uma nação os aguardava e que tinham uma boa oportunidade de homenagear o antigo comandante: a taça viria com um empate. Já o Vasco teria que vencer dois duelos para poder brigar pelo título em um jogo extra. Aparentemente, era uma missão fácil para o Flamengo. Virou drama.
No primeiro confronto, Roberto marcou duas vezes e garantiu o triunfo cruzmaltino. Poucos dias depois, novo encontro. Debaixo de uma tempestade que transformou o gramado do Maracanã em algo parecido com um campo de pólo aquático, os atletas até tentaram jogar futebol, mas não conseguiram. O jogo travado, e por vezes violento, era bom para o Flamengo, que precisava apenas segurar o resultado inicial. Quando tudo fazia crer que conseguiria, aos 44 do segundo tempo a bola sobrou para Roberto na área: Vasco 1 x 0. 
O ladrilheiro
Como se já soubessem que estavam prestes a presenciar um momento ímpar, mais de 160 mil pessoas tomaram o Maracanã para assistir à última partida. Naquela tarde, Valido e Rondinelli, heróis de 1944 e 1978, ganhariam um novo companheiro na extensa galeria de rubro-negros ilustres. Um personagem sem a menor categoria com a bola nos pés. Mas que tinha a consciência de que, à sua maneira, também poderia ser decisivo.
Roperto Passos Pereira, o ladrilheiro, invade o campo e esfria a reação vascaína
Roperto Passos Pereira, o ladrilheiro, invade o campo e esfria a reação vascaína
Enquanto o nosso personagem, o ladrilheiro Roberto Passos Pereira, então com 23 anos, ainda era mais um na multidão, os jogadores tratavam de fazer os seus papéis. Diferente dos últimos jogos, o Flamengo mostrava-se insinuante e envolvia o Vasco com trocas de passes. Aos 20 minutos, após confusão na pequena área cruzmaltina, Adílio faz o primeiro. Quatro minutos depois, Zico lança e Júnior parte como uma flecha para dividir com o goleiro Mazaropi. A bola acaba com Nunes, que, da intermediária, encobre o defensor. Golaço.
Mesmo com a vantagem, o Flamengo não recua e tem diversas oportunidades de ampliar no segundo tempo. Mas desperdiça todas. Talvez como uma punição dos Deuses do Futebol, Ticão diminui, aos 38, e inicia a pressão pelo empate. Vendo o título em risco, o ladrilheiro decide agir. Aos 41, com um short branco e uma camisa rubro-negra nas mãos, invade o campo e leva os vascaínos ao desespero. Gilberto e Mazaropi o agridem. Nunes sai em sua defesa e dá início a uma confusão generalizada. A partida é paralisada por 5 minutos e nada mais acontece. Detido pelo "feito", José Roberto comemora: o seu Flamengo era campeão. 
"A invasão foi uma grande surpresa para todos, mas é preciso deixar claro que merecemos a vitória pelo que fizemos em campo. Não acho que ele tenha entrado com a intenção de estragar o espetáculo. Só queria nos abraçar. Aí o Gilberto, com quem tenho uma excelente relação, o agrediu. Não achei correto e corri para defendê-lo", relata Nunes.
O ladrilheiro virou celebridade entre os rubro-negros. Foi solto com a ajuda dos advogados do clube, participou da festa do título e se tornou figurinha comum em programas de TV. Os vascaínos, porém, jamais o perdoaram. Dois anos após o episódio, ele foi espancado por torcedores que o reconheceram em uma estação de trem.
Mundial
Uma semana foi o intervalo entre a vitória sobre o maior rival e a maior vitória da história do clube. Em 13 de dezembro, o Flamengo entrava no Estádio Nacional de Tóquio para enfrentar o Liverpool, verdadeiro rolo compressor da época. Os Reds, como são conhecidos, chegaram ao Mundial com as credenciais de quem havia acabado de faturar a Copa da Europa (atual Liga dos Campeões), o Campeonato Inglês e a Copa da Liga Inglesa. Em suma,  conquistas suficientes para que a imprensa do país tivesse certeza da vitória.Expert analisa time do Liverpool em 1981
E os atletas do Liverpool também tinham. No momento em que as equipes se encontraram, pouco antes do início da partida, demonstraram total desprezo. Riam dos rubro-negros, como se quisessem saber que time de quinta categoria era aquele que iriam enfrentar. Não tinham ideia de que estavam subestimando alguns dos craques que participariam de uma das maiores seleções brasileiras de todos os tempos.
1 / 27
"Quando fizemos a nossa corrente na beira do campo, eles começaram a dar risadas. O Júnior, então, aproveitou aquilo para motivar ainda mais o grupo. E conseguiu. Entramos focados, respeitando o adversário, e conseguimos a vitória rapidamente", conta Andrade. 
Dentro de campo, não demorou para o Flamengo mostrar que a tentativa de intimidação não passou de perda de tempo. Aos 12 minutos, Nunes recebe lançamento de Zico e toca na saída de Grobbelaar. Aos 36, Zico bate falta e o goleiro rebate para o meio da área. Na sobra, Lico divide com o zagueiro e a bola cai para Adílio ampliar. Seis minutos mais tarde, o inspirado Zico dá outro passe para Nunes, que chuta cruzado e faz o terceiro. O golpe final estava dado. Sem forças para reagir, o Liverpool recua com medo de levar mais gols e vê os rubro-negros trocarem passes até o apito final. Estava encerrado. O mundo se curvava ao Fla.
Zico levanta a taça do Mundial
Zico levanta a taça do Mundial
Flamengo 3x0 Liverpool - Mundial Interclubes de 1981
Local: Estádio Nacional, Tóquio (JAP)
Data: 13 de Dezembro de1981
Árbitro: Rúbio Vazques (México)
Gols: Nunes 13', Adílio 34' e Nunes 41' do 1° tempo
FLAMENGO: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Adílio, Andrade e Zico; Tita, Lico e Nunes. Técnico: Paulo César Carpeggiani
LIVERPOOL: Grobbelaar; Neal, R. Kennedy, Lawnson e Thompson; Hansen, Dalglish e Lee; Johnstone, Souness e McDermott (Johnson). Técnico: Paisley.
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