No Congresso de Viena, manejando as divisões entre os inimigos de Napoleão, a diabólica habilidade de Talleyrand obtém enormes vantagens para a França, mas tudo pára com a volta do Imperador. Os monarcas não admitem a legitimidade popular de que Napoleão ainda goza e decretam: "A vontade do povo francês, ainda que plenamente constatada, não seria menos nula e ineficaz” ("Le voeu du peuple Français, s'il était pleinement constaté n’en serait pas moins nul et sans effet").
Napoleão compreende que sua situação é desesperadora e tenta convencer as potências estrangeiras de suas intenções pacifistas, mas em vão. Napoleão deve mais uma vez enfrentar os inimigos que ameaçam invadir a França. Os ingleses e prussianos encontram-se na Bélgica, os austríacos e russos se aproximam. Napoleão decide atacá-los o quanto antes, em separado e derrotá-los um de cada vez: a mesma tática inaugurada por um obscuro general na Itália, há quinze anos atrás.
Aguardam-no 68.000 homens (25.000 britânicos de 17.000 belgo-holandeses, 10.000 de Hanover, 7.000 de Brunswick, 6.000 hommes da King's German Legion e 3.000 nassovianos), comandados pelo Duque de Wellington: grandalhão, aristocrático, arrogante, sem muita imaginação, mas resoluto e frio, um mestre na defesa. Sua tropa, bem treinada, vem de um passado de vitórias sob seu comando. Wellington conta ainda com a chegada dos 72.000 prussianos liderados pelo Marechal Blücher von Wahlstatt, um velho de 73 anos cheio de ódio aos franceses e cujo maior desejo é capturar e fuzilar Napoleão.
Napoleão reúne um exército e avança até a Bélgica. O marechal Ney comanda a ala esquerda do exército e recebe a missão de dominar Quatre-Bras. Ney perde tempo demais e permite o reforço das tropas inimigas. Mesmo assim, a princípio, as coisas parecem correr como esperado: em 16 de junho, Ney bate Wellington em Quatre-Bras, mas a vitória não é definitiva. Por seu turno, Napoleão consegue deter os Prussianos em Ligny e chama o corpo de reserva de Ney para cortar a retirada de Blücher; Ney não compreende esta ordem e chama sua reserva de volta. Como resultado, este corpo vagueia de um lado para o outro, sem ajudar a ninguém. Blücher perde 12.000 homens, mas retira-se em boa ordem. No dia seguinte (e só então) o Imperador confia o comando da ala direita (com 34.000 homens) ao marechal Grouchy e lhe ordena que persiga os prussianos. Grouchy, porém, não sabe como fazer isto e permite que Blücher escape.
Blücher havia prometido juntar-se a Wellington no monte Saint-Jean e o comandante britânico para lá se dirige. Ney não se dá conta disto senão quando é tarde demais e um temporal transformou os campos num enorme atoleiro. Wellington entrincheira sua tropa por sobre a colina e atrás dela.
No dia 18 de junho, Napoleão, com 50.000 homens, aproxima-se de Wellington, mas não ataca: ele aguarda que o sol seque o terreno para poder posicionar sua artilharia. O ataque só começa às 11:30. O Imperador não parece ter um plano definido: ele espera apenas quebrar a resistência do centro inimigo por meio de um ataque direto encosta acima. Manda chamar Grouchy, mas Soult, chefe do Estado-maior, não manda mensageiros suficientes à sua procura (que, no entanto, estava próximo o bastante para ouvir o fragor da batalha). Ele não é encontrado e, mesmo ouvindo os canhões da batalha, aferra-se à ordem de perseguir os prussianos, que conseguiram fugir sem dificuldades (o Imperador afirmará, mais tarde, que Grouchy havia descoberto o segredo de desaparecer com seus 34.000 homens e 108 canhões, como se a terra o houvesse engolido).
A barragem de artilharia não atinge os soldados de Wellington, protegidos por detrás da colina. Os ataques dos soldados franceses são rechaçados pelos britânicos. Enquanto a infantaria se reagrupa, começam a aparecer os primeiros prussianos: é preciso vencer o centro de Wellington a qualquer custo. O Marechal Ney faz repetidas cargas de cavalaria, mas sem ajuda da infantaria e dirigidas ao lugar errado; elas são repelidas pelos ingleses. Se, nestes ataques, Ney tivesse o apoio da Guarda Imperial, talvez tivesse sucesso: a Guarda era um corpo de elite que jamais fora vencido: em muitas ocasiões, sua mera presença em campo decidia uma batalha. Mas Napoleão teme engajar sua última reserva e aguarda. Ney fracassa, mas os ingleses estão no fim de sua resistência.
Neste momento, chegam os prussianos. Napoleão pode retirar-se ou ficar e lutar; ele decide lutar e manda o corpode infantaria da Guarda atacar Wellington, mas sem apoio da cavalaria de Ney, que foi inutilmente destroçada.Quando estão a quarenta passos das linhas inglesas, Wellington dá ordem de atirar e, em um minuto, caem quatrocentos franceses. A Guarda hesita e recua. O restante do exército entra em pânico. Wellington ordena que seus homens avancem. Pior ainda, os prussianos estão já completamente engajados na batalha; o Imperador não consegue realinhar seus homens e foge, pela primeira e última vewz em sua vida.
De volta a Paris, a multidão reúne-se diante do palácio e pede-lhe que entregue armas ao povo e resista. Mas Napoleão já não tem forças para tanto e abdica pela segunda vez em 22 de junho de 1815 (desde a fuga de Luís XVIII e sua entrada em Fontainebleau, passaram-se 94 dias completos).
O Imperador está atordoado. Sabe que Luís XVIII pretende fuzilá-lo, mas deixa escapar a oportunidade de fugir para a América. Esquecido de que os ingleses, de longa data, planejam exilá-lo, entrega-se ao comandante do navio Bellerophon. Imagina que receberá asilo na Inglaterra, mas é simplesmente feito prisioneiro e fica sabendo que será despachado para Santa Helena, no Oceano Atlântico, a 1.900 km da África e 2.900 km do Brasil: um rochedo no no meio do nada. Napoleão protesta veementemente, mas termina por se resignar. Leva consigo alguns poucos auxiliares: seu antigo ajudante de campo, o general Barão Gourgaud; Emmanuel de Las Cases, com seu filho, de mesmo nome; o general Conde de Montholon e o general Conde de Bertrand, ambos acompanhados de suas esposas, bem como alguns serviçais: Saint-Denis, chamado Ali, Noverraz, Pierron, Archambault e outros.
A ilha mede apenas 122 km². No lugar mais inóspito está Longwood, onde o Imperador deverá morar. A princípio, Napoleão consegue um tratamento razoavelmente digno; ele se afeiçoa a uma jovem, Betsy Balcombe, de treze anos de idade: pode-se dizer que foi sua única oportunidade de ter uma vida quase normal. Com a chegada de um novo governador, Hudson Lowe, a coisa se transforma. Hudson detestava pessoalmente Napoleão e segue à risca as instruções de carceragem: como um funcionário de um campo de concentração nazista, não faz mais que seguir ordens, mas não é necessário mais que isto (Napoleão deverá experimentar o mesmo inferno pelo qual ele próprio fizera passar Toussaint Louverture, anos antes).
Napoleão compreende que só lhe resta burilar a própria lenda; dita a Las Cases e a outros companheiros suas memórias. Sua saúde declina. Napoleão está tuberculoso, deprimido e obeso (no futuro, será levantada a hipótese de que ele está sendo envenenado por Montholon, cuja esposa seria amante do Imperador; aparentemente, porém, nem o envenamento nem tal relação encontram-se suficientemente provados).
Em 5 de maio de 1821, depois de uma torturante agonia, ele morre. Seu corpo é autopsiado e constata-se uma perfuração em seu estômago, que é atribuída ao câncer. Em 1840, ele é exumado e transportado para Paris, indo repousar nos Invalides.
Fonte: www.comopassaremconcursos.com
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