Napoleão desloca-se de Zuran para Pratzen e manda reforçar o ataque de Vandamme. Os russos ainda reagem, mas são afastados pela cavalaria pesada de Napoleão.
Batalha de Austerlitz
Por volta das 14:00 h, o exército austro-russo encontra-se dividido em dois, como pretendia Napoleão. Daí em diante, ao norte, apesar da bravura dos russos, uma bem-coordenada série de ataques franceses conseguiu impor a superioridade napoleônica.
O foco de Napoleão desloca-se para o sul: a divisão de St. Hilaire e parte do III Corpo de Davout levam o pânico às tropas inimigas que lá se encontram. Os soldados russos tentam fugir atravessando o lago de Satschan, que é alvejado pela artilharia de Napoleão. O gelo se parte e um número incerto de russos (algo entre 200 e 2.000 homens) morre afogado.
Embora as estatísticas sejam pouco precisas, estima-se que tenha havido, entre os franceses, 1.288 mortos e 6.993 feridos, com perda de uma única bandeira; do lado oposto, 16.000 mortos, 11.000 prisioneiros, com perda de 185 canhões e 45 bandeiras. Para alguns, esta batalha é comparável à de Cannae, em que Aníbal venceu os romanos. Finda a batalha, chega um enviado do Rei da Prússia, levando a declaração de guerra à França. Diante da vitória do Imperador, deixa a declaração no bolso e felicita-o efusivamente.
Em 26 de dezembro de 1805 Áustria e França assinam o tratado de Pressburg, pelo qual a Áustria reconhece o território francês definido pelos tratados do Campo Formio (1797) e Lunéville (1801); cede também territórios a Bavária, Wurttemberg e Baden, que eram aliados alemães de Napoleão, e concorda em pagar 40 milhão de francos como indenização de guerra. Veneza é entregue ao reino da Itália.
Em 12 de julho de 1806, 16 Estados alemães deixam o Sacro Império Romano-Germânico e assinam o Rheinbundakte - o Tratado da Confederação do Reno, cujo protetor é Napoleão. Em 6 de agosto, cedendo a um ultimato de Napoleão, Francisco II declara extinto o Sacro Império, embora mantenha o título de Imperador. Nos anos seguintes, 23 outros Estados alemães irão se juntar á Confederação, permancendo fora apenas a Áustria, a Prússia, o Holstein dinamarquês e a Pomerânia sueca (a região da Alsácia-Lorena já era parte da França).
Em 1806, a Prússia provoca novo conflito, sendo derrotada numa campanha de impressionante rapidez que culmina na Batalha de Jena, em 14 de Outubro de 1806, espelhada na brilhante vitória de Davout em Auerstaedt.
O Bloqueio Continental e Tilsit
Após a vitória de Austerlitz, Napoleão assina aquilo que foi chamado de o mais perigoso de seus decretos: aquele datado de Berlim (seguido de outro congêre, datado de Milão) que, em 21 de novembro de 1806, impôs o chamado Bloqueio Continental, segundo o qual nenhum país poderia mais comerciar com o Reino Unido.
O desastre de Trafalgar mostra a Napoleão que a Inglaterra tornou-se militarmente invulnerável: do outro lado do Mar da Mancha, protegida por sua frota, ela é inatingível pela França, completamente privada de navios. Em carta envida a seu irmão Luís, rei da Holanda, Napoleão manifesta a intenção de reconquistar as colônias francesas por terra e vencer o mar também por terra. A Inglaterra mostra-lhe o caminho, bloqueando todos os portos entre Brest e Hamburgo.
Em resposta, o Imperador retoma uma idéia já empregada anteriormente (sem sucesso) pela França: a vedação total ao comércio com o Reino Unido.
As diferenças entre a experiência napoleônica e as anteriores estão na absurda extensão da medida (toda a Europa dela deveria participar) e em sua natureza: não se tratava apenas de impedir que uma ou outra cidade fosse abastecida por mar, porém de levar à bancarrota a economia mais poderosa do Velho Mundo, impedindo-a tanto de importar do Continente produtos essenciais, como o trigo, quanto de exportar para lá seus produtos, principalmente as fibras têxteis (algodão e lã), que representavam mais de 50% do total das exportações inglesas.
Licença concedida durante o Bloqueio Continental
O plano tem uma falha fundamental e óbvia: nem a Europa pode dispensar as mercadorias fornecidas pelos ingleses (principalmente as de origem colonial, como açúcar de cana), nem a Inglaterra depende apenas da Europa para sobreviver. Um problema suplementar encontra-se no fato de que a França, depois do conturbado período da revolução, não tem um parque industrial capaz de suprir adequadamente a demanda do continente europeu. Como resultado, o contrabando fervilha, a ponto de acabar por ser tolerado e mesmo regulamentado (em 12 de janeiro de 1812, será promulgada uma lei autorizando a importação de mercadorias proibidas, sujeitas à tributação de 40% de seu valor). As receitas tributárias aduaneiras despencam, o sistema permite que matérias-primas oriundas de colônias inglesas entrem na França sob a bandeira de países neutros, o custo de produção para a indústria francesa vai à alturas e ela se mostra incapaz de repassá-lo integralmente aos preços.
O Bloqueio terá repercussões, mas nenhuma delas coincidirá com as expectativas do Imperador: é verdade que a economia francesa é beneficiada com o mercado cativo que se abre para ela. Consegue desenvolver tecnologias inovadoras tais como a da obtenção do açúcar da beterraba (em substituição ao açúcar de cana oriundo dos trópicos) e a fiação mecanizada do linho. Por outro lado, o Bloqueio arruína suas cidades portuárias, como Nantes, Bordéus e Marselha. Os demais países experimentam os efeitos da invasão dos produtos franceses (mais caros) e da taxação proibitiva na exportação de seus próprios produtos para a França; seus portos também sofrem enormemente (a própria Holanda, governada pelo rei Luís, irmão de Napoleão, será tão relapsa em aplicar as normas do Bloqueio que o Imperador terminará por anexá-la à França, em 9 de julho de 1810). No curso do Bloqueio, os Estados Unidos da América, indiretamente envolvidos no conflito, incrementam sua própria industrialização, assim como os estados alemães (principalmente a Prússia).
O Bloqueio terá repercussões, mas nenhuma delas coincidirá com as expectativas do Imperador: é verdade que a economia francesa é beneficiada com o mercado cativo que se abre para ela. Consegue desenvolver tecnologias inovadoras tais como a da obtenção do açúcar da beterraba (em substituição ao açúcar de cana oriundo dos trópicos) e a fiação mecanizada do linho. Por outro lado, o Bloqueio arruína suas cidades portuárias, como Nantes, Bordéus e Marselha. Os demais países experimentam os efeitos da invasão dos produtos franceses (mais caros) e da taxação proibitiva na exportação de seus próprios produtos para a França; seus portos também sofrem enormemente (a própria Holanda, governada pelo rei Luís, irmão de Napoleão, será tão relapsa em aplicar as normas do Bloqueio que o Imperador terminará por anexá-la à França, em 9 de julho de 1810). No curso do Bloqueio, os Estados Unidos da América, indiretamente envolvidos no conflito, incrementam sua própria industrialização, assim como os estados alemães (principalmente a Prússia).
Quanto ao inimigo visado por Napoleão, as conseqüências são pífias: efetivamente, privado do mercado composto pelas economias do Império, o “povo de lojistas”, como lhes chamava Napoleão, vê suas exportações para o Continente baixarem de 55% para 25% do total, entre 1802 e 1806. Porém, se, no começo, há algum desemprego nas fiações de algodão, privadas de sua matéria-prima, não ocorre nenhuma convulsão social séria. Em 1807, uma boa colheita de trigo poupa a Inglaterra de recorrer à importação deste cereal e intensificam-se as vendas inglesas para a Rússia, Portugal e Escandinávia. O Bloqueio é um fiasco.
O Tratado de Tilsit
Se o objetivo do Bloqueio não era o simples protecionismo (que já teria sido um feito considerável), mas o estrangulamento de uma economia, nenhum país da Europa, dentro ou fora do Império, poderia comercializar com a Inglaterra. Assim Napoleão assina em Tilsit (pequena cidade da Prússia oriental, hoje Sovietsk, na Rússia), durante uma encenação que se pretendia espetacular, solene e impressionante, um tratado com o tzar Alexandre I, dividindo a Europa entre as duas potências (mais tarde, Napoleão afirmará que aquele tinha sido o dia mais feliz de sua vida).
Na verdade, há dois tratados: o primeiro, secreto, datado de 7 de julho de 1807, autoriza o tzar, em troca do apoio contra a Inglaterra durante cinco anos, a tomar a Finlândia à Suécia e para desmembrar o Império Otomano (uma cláusula prevê a partilha dos territórios otomanos entre Rússia e França). O segundo, público, assinado dois dias depois, cria o Reino da Vestfália e o Ducado de Varsóvia, com territórios tomados por Napoleão à Prússia. Dantzig (hoje Gdansk, na Polônia) torna-se uma cidade livre. Além disso, a Prússia deve aderir ao Bloquieo Continental e ter seu exército reduzido a 42.000 homens. A assinatura do Tratado pôs fim à quarta coligação contra a França.
A aventura Peninsular: Portugal e Espanha
O Bloqueio Continental apresentava um flanco exposto em Portugal. Com uma economia subdesenvolvida, no sentido estrito do termo, Portugal é dependente da Inglaterra, dependência esta declarada na prática pelo Tratado de Methuen, assinado em 27 de dezembro de 1703. Segundo ele, a Inglaterra se comprometia a adquirir os vinhos de Portugal (com taxas alfandegárias reduzidas), enquanto os portugueses se comprometiam a adquirir os tecidos ingleses. Isto gerava, além de outras seqüelas, um crônico déficit comercial que devia ser coberto com crescentes remessas do ouro de Minas Gerais para Londres. Diante da pressão do Imperador, Portugal tenta manter-se neutro, mas esta neutralidade é vista como um mero ardil para conservar intactos seus laços com a Inglaterra.
Diante da relutância portuguesa em aderir ao Bloqueio, Napoleão solicita à Espanha permissão para que suas tropas transitem por seu território para chegar a Lisboa, o que lhe é negado.
Os acontecimentos se precipitaram: Napoleão ocupa a Espanha, destronando Carlos IV de Bourbon e substituindo-o por seu irmão José; Junot invade Portugal, mas o aparato governamental português fuge a tempo para sua maior colônia, o Brasil. O Reino de Nápoles (até então também uma possessão do ramo siciliano dos Bourbon) é entregue ao Marechal Joaquim Murat, casado com Elisa, irmã de Napoleão.
Caricatura inglesa da época, mostrando o Imperador e José, seu irmão, aaliando a situação e, 1808
O resultado é desastroso, muito além do imaginado pelo Imperador. Uma força expedicionária britânica é deslocada para Portugal e, integrada a tropas portuguesas, começa a fustigar os exércitos de ocupação franceses, que, embora empreendam três campanhas (em 1808 de 1810 e 1811), vão sendo lentamente empurrados de volta.
Uma parte da população espanhola também se rebela e, ainda que selvagemente reprimida, cria um problema insolúvel para Napoleão: ele se vê obrigado a imobilizar 300.00 homens na Espanha, que enfrentam, por um lado, uma guerrilha que não podiam vencer e, de outro, as tropas regulares portuguesas e inglesas comandadas por Arthur Wellesley, futuro duque de Wellington.
A Guerra Peninsular terá como conseqüência o afrouxamento dos liames coloniais e a facilitação dos movimentos de independência ibero-americanos (na Venezuela, com Bolívar; no Chile, com O’Higgins; na Argentina, com San Martin). No Brasil, já elevado à categoria de reino unido, a independência será bem mais simples, não passando de uma clonagem da monarquia lusitana, com todas as mazelas da Metrópole agravadas e aclimatadas aos trópicos.
A Guerra Peninsular terá como conseqüência o afrouxamento dos liames coloniais e a facilitação dos movimentos de independência ibero-americanos (na Venezuela, com Bolívar; no Chile, com O’Higgins; na Argentina, com San Martin). No Brasil, já elevado à categoria de reino unido, a independência será bem mais simples, não passando de uma clonagem da monarquia lusitana, com todas as mazelas da Metrópole agravadas e aclimatadas aos trópicos.
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