quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O ULTIMO CZAR




QUARTA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2008
Nicolau II - A biografia (2ª parte)
Com a formação da Terceira Duma, Nicolau começou a ter mais confiança no seu sistema. “Esta Duma não pode ser novamente abordada com uma tentativa de lhe retirar o poder e não há qualquer tipo de necessidade de o fazer.” Disse a Stolypin em 1909. Infelizmente os planos do Primeiro-Ministro foram interrompidos pelos conservadores da corte. Reaccionários como o Príncipe Vladimir Orlov nunca se cansavam de dizer ao czar que a própria existência da Duma era um golpe à autocracia e que Stolypin era um traidor e um revolucionário secreto que se estava a esforçar por, com a ajuda da Duma, roubar os poderes que pertenciam ao czar por Deus. Witte, o ex-Primeiro Ministro, também se envolvia frequentemente em intrigas contra Stolypin. Apesar de este não estar relacionado de todo com a queda de Witte, ele culpava-o por isso. Stolypin tinha também, sem saber, enfurecido a Imperatriz Alexandra quando ordenou uma investigação a Rasputin e a entregou ao czar. Stolypin, com a sua própria autoridade, tinha ordenado ao monge que abandonasse São Petersburgo. Alexandra protestou veemente, mas Nicolau recusou ir contra o seu ministro que, na altura, tinha uma maior influência junto do czar. Pouco antes de Stolypin ser assassinado por Dimitri Bogrov, um estudante (e informador da polícia) num teatro em Kiev no dia 18 de Setembro de 1911, o ministro já se tinha cansado dos fardos da sua posição. Para um homem que preferia acções limpas e decisivas, trabalhar com um soberano que acreditava em fatalismo e misticismo era frustrante.


Por exemplo, numa ocasião, Nicolau devolveu um documento por assinar com uma nota que dizia: “Apesar dos argumentos extremamente convincentes a favor de adoptar uma posição positiva neste assunto, uma voz interior continua a insistir cada vez mais para que eu não aceite a responsabilidade dele. Até agora a minha consciência não me enganou. Por isso pretendo que este caso seja esquecido. Eu sei que também tu acreditas que “um coração de czar está nas mãos de Deus”. Que assim seja. Para todas as leis estabelecidas por mim tenho uma grande responsabilidade perante Deus, e estou preparado para discutir sobre a minha decisão a qualquer altura.” A crença de Alexandra de que Stolypin tinha prejudicado a saúde do seu filho, enviando Rasputin para longe, faziam com que ela o odiasse. Em Março de 1911, num momento de raiva, afirmou que ele já não merecia a confiança imperial e então Stolypin pediu para que fosse dispensado da sua posição. Dois anos antes, quando ele tinha referido essa possibilidade durante uma conversa informal, Nicolau informou-o de que, “Isto não é uma questão de confiança ou falta dela. É a minha vontade. Lembra-te de que vivemos na Rússia e não no estrangeiro… e por isso não vou considerar a possibilidade de qualquer demissão.

Para além da vida política, os problemas de Nicolau II prolongavam-se também à vida pessoal, principalmente devido ao grave problema de sucessão. Alexandra tinha dado à luz quatro filhas, Olga em 1895, Tatiana em 1897, Maria em 1899 e Anastásia em 1901, antes de o seu filho Alexis nascer no dia 12 de Agosto de 1904. O jovem herdeiro  começou a mostrar desde cedo os primeiros sintomas de Hemofilia, uma doença genética que impede o sangue de coagular normalmente, que, na altura, era não tinha cura e, normalmente, levava à morte.

Como neta da Rainha Vitória, Alexandra era portadora do mesmo gene que afectou várias famílias reais europeias como na Espanha e na Prússia, o que deu à doença o nome de “a doença real”. Alexandra acabou por passar esse gene ao seu filho.

As filhas de Nicolau II

Devido à fragilidade da autocracia nesta altura, Nicolau e Alexandra escolheram não divulgar a doença de Alexis a ninguém fora do circulo real mais próximo. De facto, havia muitos membros dentro da própria família real, incluindo a mãe do czar, o seu irmão Miguel e a irmã Xenia, que não sabiam ao certo de que doença sofria o czarevich.
Numa primeira fase, Alexandra virou-se para médicos russos para tratar de Alexis, contudo os seus tratamentos geralmente falharam e a czarina começou a virar-se cada vez mais para o misticismo e para os chamados “homens santos”. Um deles, Gregório Rasputine, pareceu ter algum sucesso na cura do seu filho.
Como governador absoluto (e pai de quatro filhas até ao nascimento do czarevich), até 1905, Nicolau tinha total liberdade para alterar as Leis de Sucessão do Império Russo para que uma das suas filhas pudesse suceder ao trono. Estas leis foram instauradas na época de Paulo I após a morte da sua mãe, a Imperatriz Catarina, a Grande, mais como uma vingança contra ela do que para organizar a sucessão. Estas leis impediam que uma mulher subisse ao trono, a não ser que todos os homens em linha de sucessão estivessem mortos. Por razões ainda desconhecidas, Nicolau escolheu não mudar ou abolir estas leis.

Nicolau II com o seu filho Alexis

Nicolau foi descrito como um pai atencioso e afável para com todos os seus filhos que raramente castigava sem, no entanto, se descuidar em criá-los da forma mais simples possível para que estes não ficassem demasiado fascinados com a fortuna de que dispunham.

Segundo relatos da altura, de todos os seus filhos, aquela que se parecia mais consigo tanto física como psicologicamente era a sua terceira filha Maria que alguns descrevem como sendo a sua favorita, embora fosse muito próximo de todos.

Maria com o pai em 1917

A seguir ao assassinato do Arquiduque Francisco Fernando da Áustria por Gavrilo Princip, um membro da associação nacionalista servia conhecida por “Mão Negra”, em Sarajevo do dia 28 de Junho de 1914, Nicolau vacilou em relação à posição que a Rússia deveria tomar. O país tinha assinado vários tratados de protecção com a Sérvia e, por isso, tornava-se difícil aceitar o ultimato proveniente do Império Austro-Húngaro para cortar relações com o país, mas o czar também não desejava provocar uma guerra geral. Numa série de cartas trocadas com o seu primo, o Kaiser alemão (a chamada “correspondência Willy e Nicky), os dois proclamaram o seu desejo em manter a paz e cada um tentou fazer com que o outro desistisse. Nicolau pôs em marcha medidas drásticas em seu favor, mobilizando as suas tropas para a fronteira Austríaca, na esperança de prevenir a guerra com o Império Alemão.

Nicolau II com o seu primo, o Kaiser Guilherme II em 1907

Os russos não tinham planos alternativos para uma mobilização parcial e, no dia 31 de Julho de 1914, Nicolau deu um passo em falso, confirmando a ordem para uma mobilização geral que incluía a invasão da Alemanha, apesar de ter sido aconselhado vivamente a não o fazer. Como a Alemanha e o Império Austro-húngaro tinham acordos mútuos de defesa, isto levou quase imediatamente à mobilização alemã, à declaração de guerra e, inevitavelmente, ao rebentar da Primeira Guerra Mundial. A Guerra constituía um grande perigo para a estabilidade da dinastia Romanov. O Conde Witte disse ao embaixador francês que, do ponto de vista russo, a guerra era uma loucura, a solidariedade para com a Servia não fazia sentido e a Rússia não podia esperar ganhar alguma coisa com a guerra.

Nicolau II planeia uma estratégia durante a Guerra

O rebentar da Guerra no dia 1 de Agosto de 1914 fez sobressair a falta de preparação militar russa. Tanto o país como os seus aliados depositaram a sua fé no seu famoso “Esmagador Exército Russo”. A sua mobilização pré-guerra era de 1,400,000 homens aos quais foram acrescentados 3,100,000 homens de reserva após o incio propriamente dito, isto além dos milhões de homens  que o país tinha disponíveis para começar a combater assim que fossem chamados. Em todos os outros aspectos, no entanto, a Rússia não tinha a mínima preparação. A Alemanha tinha dez vezes mais caminhos-de-ferro por quilómetro quadrado, ou seja, enquanto um soldado russo tinha de percorrer, em média 1,290 quilómetros para chegar à frente de combate, um soldado alemão tinha apenas de percorrer um quarto dessa distância. A indústria pesada russa era ainda demasiado insuficiente para equipar os seus massivos exércitos e as suas reservas e munições eram ridiculamente diminutas. Com o mar báltico ocupado por barcos alemães e os Dardanelos cercados pela sua antiga aliada Turquia, a Rússia apenas podia receber ajuda através de Arcangel, uma cidade que se tornava quase mortalmente gelada no Inverno, ou então por Vladivostok, que se encontrava a mais de 6400 quilómetros da frente de combate. O Alto Comando Russo estava cada vez mais enfraquecido pelo mútuo ódio entre Vladimir Sukhomlinov, Ministro da Guerra, e o temido e gigantesco guerreiro Grão-Duque Nicolau Nicolaievich que comandava os exércitos em campo. Apesar de tudo isto, um ataque imediato foi ordenado contra a província alemã da Prússia Oriental. Os alemães mobilizaram-se lá com grande eficácia e derrotaram completamente os dois exércitos russos que os tinham invadido.

Nicolau II visita um hospital durante a guerra
As baixas totais na Primavera e Verão de 1915 eram de 1,400,000 mortos ou feridos, enquanto 976,000 tinham sido feitos prisioneiros. No dia 5 de Agosto com a retirada do exército, Varsóvia caiu em mãos alemãs. As pesadas derrotas na frente traziam desordem no seio do país. A principio os alvos eram os Alemães e durante três dias em Junho, as lojas, padarias, fábricas, casas privadas e terrenos que pertencessem a pessoas com nomes alemães foram saqueados e/ou queimados. Depois as multidões zangadas viraram-se para o governo, declararam que a Imperatriz (nascida na Alemanha) deveria ser enviada para um convento, o czar destituído e Rasputine enforcado.

Nicolau não ignorava de todo este descontentamento. Foi marcada uma sessão de emergência com a Duma e foi estabelecido um Concelho de Defesa Especial, constituído por membros da Duma e ministros do czar.

Em Julho de 1915, o rei Cristiano X da Dinamarca, primo directo do czar, enviou Hans Niels Andersen a Czarskoe Selo com uma oferta para servir de mediador entre os vários países. Fez várias viagens entre Londres, Berlim e Petrogrado e, em Julho, encontrou-se com a sua tia e mãe do czar, Maria Feodorovna. Andersen disse-lhe que deveriam concluir o processo de paz, mas Nicolau escolheu recusar a proposta do primo para servir de mediador.


O energético o e eficiente General Polivanov substituiu Sukhomlinov como Ministro da Guerra. A situação não melhorou e as retiradas continuaram a suceder-se. Influenciado por Alexandra que o convenceu que aquele era o seu dever e que a sua presença iria inspirar as tropas, o czar Nicolau II decidiu comandar o seu próprio exercito directamente contra os conselhos da sua família e governo. Assumiu a posição de comandante e chefe depois de dispensar os serviços do seu tio-avô, o respeitado e experiente Grão-Duque Nikolai Nokolaevich em Setembro de 1915, a seguir à perda da Polónia. Este foi um erro fatal, uma vez que ele passou a ser culpado directamente pelas batalhas que se continuaram a perder, além disso, o czar permaneceu “escondido” num quartel em Mogilev, muito longe tanto da frente de combate como da capital do país onde o governo passou a ser chefiado pela sua inexperiente esposa.
Como alemã, Alexandra era extremamente impopular. A Duma estava constantemente a pedir reformas políticas e a instabilidade política continuou ao longo de todo o período de guerra. Distanciado da opinião pública na capital, Nicolau recusou-se a ver o cansaço da população em geral em relação à sua dinastia e o quanto as pessoas odiavam a sua mulher. Tinha sido repetidamente avisado em relação à influência destrutiva de Gregório Rasputine, mas tinha falhado na tentativa de o afastar. Nicolau recusara censurar a imprensa e os rumores selvagens e acusações contra Alexandra e Rasputine apareciam quase diariamente. Alexandra foi até acusada de traição devido às suas raízes alemãs. Zangados com a inércia de Nicolau em relação ao grande mal que Rasputine estava a causar à família e ao país, um grupo de nobres liderados pelo Príncipe Yussupov e pelo Grão-Duque Dmitri Pavlovich, primo do czar, conseguiu assassinar o monge siberiano do dia 16 de Dezembro de 1916.


Na Primavera de 1917, a Rússia estava prestes a entrar em colapso. O exército tinha levado 15 milhões de homens do campo, o que fez com que houvesse menos mão-de-obra e os preços aumentaram. Um ovo custava quatro vezes mais do que em 1914 e a manteiga, cinco vezes mais. O Inverno severo desse ano destruiu muitos troços de caminho-de-ferro, o que atrasou a distribuição de mantimentos e munições para o exercito. Como golpe final, o país tinha começado a guerra com 20,000 locomotivas, das quais apenas 9000 estavam em serviço em 1917, enquanto que o número de vagões tinha diminuído de meio milhão para 170,000. Em Fevereiro de 1917, 1200 locomotivas foram bombardeadas e quase 60,000 vagões foram imobilizados. Em Petrogrado as reservas de farinha e combustível esgotaram-se completamente.

Em Fevereiro de 1917, na capital do Império Russo, uma combinação de tempo frio severo aliada com um corte nas reservas de comida nos armazéns, fez com que a população começasse a partir janelas de lojas para conseguir pão e outras necessidades. Nas ruas apareceram faixas vermelhas e as multidões gritavam: “Abaixo com a mulher Alemã!” ,Abaixo com Protopopov!”, “Abaixo com a guerra!” A policia começou a disparar contra a população dos telhados, o que provocou vários motins. As tropas em Petrogrado estavam pouco motivadas e os seus oficiais não tinham razões para ser leais ao regime. Estavam zangados e cheios de fervor revolucionário e rapidamente se juntaram à população. O governo implorou a Nicolau para que regressasse a Petrogrado e que abdicasse voluntariamente. A 800 quilómetros de distância, o czar, mal informado pelo seu general Protopopov, de que a situação estava controlada, ordenou que fossem tomadas medidas drásticas contra os manifestantes. Em Petrogrado havia 170,000 recrutas, rapazes do campo ou homens mais velhos dos subúrbios de classes trabalhadoras para manter o controlo na cidade sob o comando dos oficiais inválidos da frente de combate, e cadetes das academias militares. Muitas unidades com falta de oficiais e munições, nunca chegaram a ter qualquer tipo de treino. O General Khabalov tentou pôr as ordens do czar em prática na manhã de 11 de Março de 1917. Apesar dos grandes cartazes que ordenavam às pessoas para se afastarem das ruas, grandes multidões juntaram-se e apenas se começaram a separar depois de cerca de 200 pessoas terem sido abatidas a tiro, apesar de o regimento de Volinsky ter disparado para o ar e não para a multidão e uma companhia de Pavlovsky ter morto o oficial que tinha dado a ordem para disparar. Quando informado da situação, Nicolau ordenou o reforço das tropas na capital e a dissolução da Duma.

Revolução de Fevereiro

Era tarde demais. No dia 12 de Março, o regimento de Volinsky revoltou-se e foi rapidamente seguido de quase todos os outros, incluindo a legendária Guarda Preobrajensky, o mais antigo e consistente regimento do czar, fundado por Pedro, o Grande. O arsenal foi pilhado, o Ministério do Interior, o edifício do Governo Militar, esquadras de polícia, tribunais e muitos outros centros de poder foram queimados. Ao meio-dia, a Fortaleza de Pedro e Paulo, com a sua artilharia pesada, estava nas mãos dos revoltosos. Quando caiu a noite, 60,000 soldados já se tinham juntado à revolução. Instalou-se a confusão e membros da Duma formaram um Governo Provisório para tentar restaurar a ordem, mas era impossível mudar o curso da revolução. Já a Duma e os Sovietes tinham formado os núcleos de um Governo Provisório e decidido que Nicolau II deveria abdicar. Confrontado com esta exigência, que foi repetida por todos os seus os seus generais, desprovidos de tropas leais, com a sua família firmemente nas mãos do Governo Provisório , o medo crescente de uma guerra civil e a abertura do caminho para uma conquista alemã, Nicolau não teve outra escolha senão aceitar. No final da “Revolução de Fevereiro” de 1917 (Fevereiro de acordo com o antigo calendário russo), no dia 2 de Março (15 de Março do calendário gregoriano), Nicolau II foi forçado a abdicar. A sua primeira carta de abdicação favorecia o seu filho Alexis à subida ao trono, mas depois acabou por mudar de ideias ao ouvir os conselhos dos médicos que afirmavam que o herdeiro não poderia sobreviver por muito tempo longe dos pais que teriam de ser exilados. Assim, o czar assinou uma nova carta onde nomeava o seu irmão, o Grão-Duque Miguel, como o novo Imperador de todas as Rússias.

O Grão-Duque Miguel recusou-se a aceitar o trono até que as pessoas fossem autorizadas a votar através de uma Assembleia Constituinte para saber se a população queria permanecer sob um regime monárquico ou preferia enveredar por uma república. Ao contrário do que se pensa, Miguel nunca abdicou, simplesmente atrasou a posse do poder.

Grão-Duque Miguel, irmão de Nicolau II

No dia 22 de Março de 1917, Nicolau, já deposto, foi reunido com a sua família no Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo. Toda a família e todos os criados que os desejassem acompanhar foram condenados a prisão domiciliária pelo Governo Provisório. Rodeados pelos seus guardas, confinados aos seus aposentos, a família Imperial foi rudemente inspeccionada na primeira noite em que Nicolau chegou. O ex-czar permaneceu calmo e digno e até insistiu em rever as lições dos filhos consigo como tutor em História e Geografia. Através dos jornais, ficou interessado no desenvolvimento da guerra, mas não podia evitar ler também a forma alegre e luxuosa como a imprensa contava histórias sobre Rasputine e a Imperatriz através das “confissões” de antigos servos e das histórias sobre as vidas privadas dos proclamados “amantes” das suas quatro filhas.

Em Agosto de 1917, o governo de Kerensky evacuou a família para Tobolsk, nos Montes Urais, alegando estar a protegê-los do crescente perigo que uma nova revolução lhes poderia trazer. Lá, os Romanov viveram com grande conforto.

Nicolau II com a sua filha Maria durante o exilio no Palácio de Alexandre

Depois de os bolcheviques chegarem ao poder em Outubro de 1917, as condições da sua detenção passaram a ser mais rigorosas e várias vozes se levantavam a favor de levar Nicolau a julgamento. O ex-czar seguiu os acontecimentos com interesse, sem, no entanto, se alarmar excessivamente. Ele continuou a subestimar a importância de Lenine, mas já começava a compreender que a sua abdicação tinham feito mais mal que bem à Rússia.  Entretanto ele a família ocupavam o seu tempo a tentar manter-se quentes numa região onde as temperaturas chegavam a atingir os 55.6 graus negativos. O domínio soviético significava agora restrições cada vez mais ridículas. O czar estava proibido de usar epaulettes e os sentinelas desenhavam desenhos rudes nas paredes para ofender as filhas. No dia 1 de Março de 1918, a família foi obrigada a comer apenas o que sobrava dos soldados que tinham de partilhar entre si e os 10 servos que continuavam com eles.

À medida que a contra-revolução do Movimento Branco ganhava força, levando a uma guerra civil de grande escala no Verão, Nicolau, Alexandra e a sua filha Maria foram levados em Abril para Ekaterinburgo. Alexis estava demasiado doente para acompanhar os seus pais e permaneceu  por mais um mês em Tobolsk com as suas irmãs Olga, Tatiana e Anastasia. A família foi presa com os poucos servos que restavam na Casa Ipatiev (conhecida como a “Casa Para Fins Especiais”), um posto de comando bolchevique fortemente militarizado.

Nicolau, Alexandra, os seus filhos, o médico e os três servos que restavam, foram acordados e levados para a cave da casa onde seriam executados às 2:30 da manhã do dia 18 de Julho de 1917. Um anúncio oficial apareceu na imprensa nacional dois dias depois, informando que o monarca tinha sido executado por ordem do Presidium do Soviete da Região Ural. Agora é do conhecimento geral que Lenine tinha ordenado pessoalmente a execução de toda a família. Apesar de vários terem colocado a responsabilidade da decisão naquele Soviete, o diário de Trotsky é bem claro quanto ao facto de o assassinato ter decorrido sob a ordem de Lenine:
“A minha outra visita a Moscovo decorreu depois da queda de Ekaterinburgo. Durante uma conversa com o Sverdlov, perguntei-lhe de passagem, “Ah sim, e onde está o czar?” “Está por todo o lado,” respondeu ele. “Ele foi morto.” “E onde está a família?” “A família morreu com ele.” “Todos eles?”, perguntei eu, pelos vistos um pouco surpreendido. “Eles todos”, replicou o Sverlov. “O que tem?” Ele estava à espera de ver a minha reacção. Eu não disse nada. “E quem tomou essa decisão?”, perguntei. “Decidimos aqui. O Ilyich (Lenine) achou que não os devíamos deixar vivos, especialmente com os Brancos tão perto, tendo em conta as circunstâncias.”


Os corpos do czar e da sua família seriam apenas descobertos em 1979 por dois investigadores russos e apenas veriam a luz do dia após a queda do regime comunista 10 anos mais tarde. O funeral seria realizado no dia 18 de Julho de 1998, 80 anos depois da execução ainda sem os corpos de Alexis e Maria.

última fotografia conhecida de Nicolau II

Nicolau II morreu com 50 anos de idade, afirmando no dia do seu aniversário, dois meses antes que estava surpreendido por ter vivido tanto tempo.

música: Coldplay - "Violet Hill"

publicado por tuga9890 às 16:28
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SÁBADO, 21 DE JUNHO DE 2008
Nicolau II - A biografia (1ª parte)
Nicolau Alexandrovich Romanov nasceu a 18 de Maio de 1868 e foi o último czar da Rússia, rei da Polónia e Grão-Duque da Finlândia. O seu título oficial era Nicolau II, Imperador e Autocrata de Todas as Rússias e, hoje em dia, é um dos santos da Igreja Ortodoxa.

Nicolau II

Nicolau II governou desde 1894 até à sua abdicação em 1917. Provou ser incapaz de governar um país em tumulto político e de comandar o seu exército durante a Primeira Guerra Mundial. O seu reinado terminou com a Revolução Russa de 1917 durante a qual ele e a sua família foram presos, primeiro no Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo, depois na mansão do Governador em Tobolsk na Sibéra e, finalmente, na casa Ipatiev em Ekaterinburgo onde a família acabaria por ser executada pelos bolcheviques na noite de 16 para 17 de Julho de 1918. Durante o seu reinado, Nicolau recebeu o cognome de Nicolau, o Sangrento devido aos trágicos acontecimentos durante a sua coroação, ao episódio do Domingo Sangrento e a subsequente repressão do seu governo ao movimento socialista. É também conhecido por ocupar o terceiro lugar na lista de pessoas mais ricas da História com uma fortuna  avaliada em 253.5 biliões de dólares .



Nicolau nasceu em Czarskoye Selo, o primeiro filho do Imperador Alexandre III e da sua esposa Maria Feodorovna, Princesa Dagmar da Dinamarca. Os seus avós paternos eram Alexandre II da Rússia e a sua primeira esposa Maria Alexandrovna, Princesa de Hesse-Darmstadt. Os seus avós maternos eram Cristiano IX da Dinamarca e Louise de Hesse-Kassel.

Nicolau II aos 3 anos de idade

Desde sempre uma criança sensível, Nicolau sentia receio da força e estatura do seu pai, Alexandre III, apesar de o adorar e falar  dele com saudade em cartas e diários depois da sua morte. Apesar de tudo era mais próximo da sua mãe. Nicolau tinha três irmãos: Alexandre (1869-1870), Jorge (1871-1899) e Miguel (1878-1918) e duas irmãs: Xenia (1875-1960) e Olga (1882-1960).

Nicolau com a  mãe em 1870

Nicolau tornou-se czarevich inesperadamente no dia 1 de Março de 1881 quando o seu avô foi assassinado num atentado bombista em São Petersburgo, sendo sucedido por Alexandre III. Nicolau tinha 12 anos e entrou na sala do Palácio de Inverno onde o seu  avô pálidoestava deitado à espera da morte e sentou-se na ponta da cama a observá-lo por ordem do pai. A sua mãe, que tinha estado a patinar no gelo, chegou ainda com os patins calçados, movimentando-se com dificuldade. O seu pai ficou paralisado do lado de fora da janela, a tremer nervosamente até o médico anunciar a morte do czar libertador.

Nicolau durante a infância

Muito se tem escrito sobre o luxo e opulência da vida dos Romanov. De facto, a corte era deslumbrante, mas o esplendor não chegava aos aposentos das crianças. No Palácio de Inverno, em Czarskoe Selo, Gatchina e Peterhof, foi possível visitar esta área até 1922 e constatou-se que as crianças dormiam em camas amovíveis com almofadas duras e colchões finos. O chão era coberto com uma carpete modesta e não existiam cadeiras nem sofás, sendo que a única mobília da divisão eram alguns bancos, pequenas mesas e estantes onde se guardavam livros e brinquedos.

O único pormenor rico era apenas visível numa das paredes onde estava pendurada uma imagem da Virgem de Kasam rodeada de pérolas e pedras preciosas. A comida era muito simples e, desde os dias de Maria Alexandrovna, esposa de Alexandre II, os costumes ingleses foram introduzidos: papas de aveia para o pequeno-almoço, banhos frios e muito ar fresco. Ao almoço, Nicolau e os irmãos juntavam-se aos seus pais na refeição onde havia mais fartura, no entanto, as crianças eram as últimas a ser servidas depois de todos os convidados presentes e ainda tinham de sair da mesa assim que o seu pai se levantasse, o que acabava por fazer com que ficassem com fome.

Nicolau (direita) com o irmão Jorge

Um dia, durante uma das longas celebrações pascais que a família tinha de frequentar, um Nicolau esfomeado aproveitou um crucifixo que trazia ao pescoço desde o nascimento que tinha uma amostra de cera dentro. “O Nicky estava com tanta fome que abriu a cruz e comeu tudo o que estava lá dentro, incluindo a relíquia que estava escondida na cera”, recordou a sua irmã Olga.

Nicolau (no centro) com os primos ingleses

Nicolau passou a maior parte da sua infância no Palácio de Gatchina, cerca de 64 quilómetros a oeste de São Petersburgo, perto de Czarskoe Selo. Gatchina tinha 900 quartos e era o palácio preferido de Alexandre III que possuía ainda palácios em Peterhof, Czarskoe Selo, Anitchkov, Moscovo e em Livadia, na Crimeia.

O czarevitch foi educado por tutores. Havia tutores de línguas, de geografia e ainda um tutor de dança que usava luvas brancas e exigia que uma grande jarra de flores estivesse sempre presente quando ele tocava piano. De todos os tutores, o mais importante foi Constantino Petrovich Pobesdonostsev, um filósofo.

Nicolau durante a sua juventude

Em vários aspectos, a educação de Nicolau foi excelente. Ele tinha uma memória extraordinária, o que o tornava um excelente aluno em História, falava Francês, Alemão, e o seu Inglês era tão bom que poderia ter enganado qualquer professor de Oxford e fazê-lo acreditar que era inglês. Era bom cavaleiro, dançarino e excelente com armas. Desde cedo foi ensinado a manter um diário e, ao estilo de infindáveis príncipes e cavalheiros da época, registava fielmente, dia após dia, o estado do tempo, o número de pássaros que tinha morto e os nomes daqueles que o acompanhavam em passeios e jantares.


Em Maio de 1890, alguns dias antes do seu 22º aniversário, Nicolau escreveu no seu diário: “Hoje terminei definitivamente a minha educação.” Na maioria do tempo, não era pedido a Nicolau que fizesse alguma coisa. A função essencial do czarevich, assim que terminava a sua educação e atingia a idade adulta, era esperar o mais discretamente possível a sua vez de subir ao trono. Em 1890, Alexandre III tinha apenas 45 anos e esperava-se que continuasse a ocupar o seu lugar por mais 20 ou 30  por isso, apesar de duvidar da capacidade do filho em assumir as suas responsabilidades, não fez grande coisa para o preparar. Nicolau aceitou alegremente o papel de “playboy” para o qual tinha sido designado. Por vezes o seu pai obrigava-o a assistir a reuniões do Concelho Imperial, mas os seus olhos estavam presos no relógio e, na primeira oportunidade, fugia.

Nicolau (2º da esquerda) com alguns membros da família

Tratado de “Nicky” pela sua família e amigos mais próximos, o czarevich apaixonou-se pela Princesa Alix de Hesse-Darmstadt, neta da Rainha Vitória de Inglaterra, em 1884 durante o casamento do tio de Nicolau, Sergei Alexandrovich, com a irmã de Alix., Isabel Ele tinha 16 anos e ela apenas 12. Os dois voltariam a encontrar-se em 1889, quando ele tinha 21 e ela 17. Ele levou-a a patinar no gelo e ambos encontraram-se em vários bailes e jantares. Depois de ela deixar São Petersburgo, ele afirmou que, se Alix o rejeitasse, ele nunca se casaria. Os seus pais, no entanto, não aprovavam este romance, com esperança de cimentar a nova aliança entre a Rússia e a França casando o seu filho com a Princesa Hélène, filha do Conde Filipe da Casa de Orléans.

Nicolau e Alexandra em 1894

Como czarevich, Nicolau viajou bastante. Durante uma viagem ao Império do Japão, uma tentativa de assassinato falhada com um sabre, deixou-lhe uma cicatriz na testa. A reacção rápida do seu primo, o Príncipe Jorge da Grécia e da Dinamarca, que evitou um segundo golpe com a sua bengala, salvou-lhe a vida. O motivo para esta tentativa de matar o herdeiro ao trono russo, foi o facto de o homem se sentir ofendido por um estrangeiro estar a visitar um templo sagrado que nunca antes tinha aceitado a entrada de alguém de outra religião. O incidente teve um efeito histórico infeliz em Nicolau que passou a odiar o Japão e acabaria por entrar em guerra com o país entre 1904-1905.


Nicolau II  passeia  pelo  Japão

Nicolau ficou noivo de Alix de Hesse em Abril de 1894. A principio teve alguns problemas para a convencer a tornar-se sua noive, uma vez que uma Imperatriz da Rússia tinha de se converter à Igreja Ortodoxa Russa, e Alix era luterana. Eventualmente, no entanto, a paixão de Alix por Nicolau venceu e o noivado tornou-se oficial a 8 de Abril de 1894. Alix converteu-se em Novembro desse mesmo ano e mudou de nome para Alexandra Fedorovna.

Ao longo de 1894, a saúde de Alexandre III foi-se deteriorando inesperadamente. Esperando viver mais 20 ou 30 anos, Alexandre não deu a educação política que pretendia ao seu filho, o que resultou no fraco interesse de Nicolau pelos assuntos imperiais. Apesar de ser uma criança educada e encantadora, sempre mostrou falta de interesse ou curiosidade nas lições dos tutores. Mesmo quando Alexandre tentou introduzir o filho nos assuntos do Estado, Nicolau perdeu o interesse depois de passar vinte minutos nas sessões do conselho e saiu para ir ter com os seus amigos aos cafés. Alexandre morreu aos 49 anos em 1894 devido a uma doença de rins. Nicolau sentiu-se tão pouco preparado para os seus deveres que terá perguntado ao seu primo o que iria acontecer consigo e com a Rússia agora que chegara a sua vez de governar. Apesar de tudo, decidiu manter a política conservadora do seu pai.

A coroação de Nicolau II e Alexandra Fyodorovna em 1896
O casamento de Nicolau e Alexandra, planeado para a Primavera seguinte, foi antecipado por insistência de Nicolau. Sufocado pelo peso do seu novo cargo, o czar não tinha intenções de permitir que a única pessoa que lhe dava confiança o abandonasse. O casamento foi celebrado no dia 26 de Novembro de 1894. Alexandra usou o vestido tradicional das noivas Romanov e Nicolau levou o seu uniforme. Poucos minutos antes da 1 da tarde, os dois tornaram-se marido e mulher numa união que se manteria forte até à morte de ambos.
Alexandra no seu casamento

Apesar de uma visita ao Reino Unido antes da sua coroação onde observou a Casa dos Comuns em debate e pareceu bastante impressionado pela forma como funcionava a Democracia, Nicolau virou as costas a qualquer ideia de partilhar o seu poder com algum órgão do género na Rússia. Pouco depois de ascender ao trono, um grupo de camponeses e trabalhadores de vários pontos do país foram até ao Palácio de Inverno pedir algumas reformas constitucionais. Apesar de os seus pedidos lhe terem sido entregues por escrito, Nicolau limitou-se a juntá-los aos muitos papéis da secretária, furioso pela sua ousadia e ignorando os conselhos da família para lhes prestar a atenção devida: “… chegou-me aos ouvidos que durante os últimos meses, se têm ouvido vozes daqueles que imergiram em sonhos sem sentido de que os zemstvos (concelhos do povo) seriam chamados para participar na governação do país. Quero que todos saibam que eu vou dedicar toda a minha força para manter, para o bem da nação, o principio de autocracia tão fortemente como o meu pai o fez.” Estas palavras deixaram perplexos todos quantos as ouviram e resultaram na destruição da popularidade do novo czar e da esperança de uma mudança pacífica na Rússia.
Apesar destas palavras fortes, Nicolau era tímido na presença de membros mais velhos da sua família. O seu cunhado, o Grão-Duque Alexandre Mikhailovich, escreveu mais tarde que, “Nicolau II passou os seus primeiros 10 anos de reinado sentado atrás de uma grande secretária no Palácio e a ouvir com pouca atenção o discurso bem ensaiado dos seus tios abusivos. Ele atreveu-se a ficar sozinho com eles… Eles queriam sempre alguma coisa.”

Nicolau, a sua esposa Alexandra, e alguns dos seus tios e primos

O choque entre a Rússia e o Japão foi quase inevitável no inicio do século XX. A Rússia tinha-se expandido para o Oriente e as suas pretensões territoriais colidiam com as pretensões japonesas na China. A Guerra começou em 1904 com um ataque surpresa à frota russa no Porto Artur, que incapacitou a marinha russa no Oriente. A frota báltica tentou fazer a travessia marítima para ajudar na batalha, no entanto, depois de vários percalços no caminho, foi aniquilada pelos japoneses na batalha do estreito de Tsushima. Em terra, as tropas russas estavam desprovidas de mantimentos devido a uma avaria na linha férrea trans-siberiana. A guerra terminou com a derrota da Rússia após a queda do Porto Artur em 1905.

Ataque ao Porto Artur

A posição de Nicolau na Guerra foi algo que frustrou muitos. Pouco antes do ataque japonês ao Porto Artur, Nicolau manteve firmemente a sua crença de que não haveria guerra. Sentia que havia um poder divino a governar e proteger a Rússia e que impediria qualquer tipo de guerra com o Japão. Apesar das muitas derrotas, Nicolau continuou a acreditar numa vitória. Muitas pessoas viram a confiança e teimosia do czar como um sinal de indiferença, achando-o impenetrável. À media que a Rússia continuava a ser derrotada, as vozes pedindo paz começavam a aumentar. A própria mãe do czar, bem como o seu primo Guilherme II, pediram a Nicolau que abrisse negociações de paz, mas apesar de todos os esforços, este continuou a sua estratégia. Apenas quando a frota russa foi totalmente eliminada a 28 de Março, Nicolau decidiu dar inicio ao processo de paz.

Como resultado, o orgulho russo foi severamente afectado e a popularidade de Nicolau II sofreu mais um grave golpe com várias greves e manifestações que assolaram o país entre 1905 e 1906. Durante a época de tumulto, o tio do czar, o Grão-Duque Sergei, foi morto por uma bomba quando saía do Kremlin.

Grão-Duque Sergei Alexandrovich

No dia de Epifania, a 19 de Janeiro de 1905, decorreu a tradicional Bênção das Águas em frente do Palácio de Inverno. Como era hábito, foi construído um pódio para o czar, alguns membros da corte e do clérigo enquanto que outros membros da família real assistiam à cerimónia das janelas do palácio. A cerimónia começou com uma saudação de canhão que acabou por aterrar perto do czar e feriu um polícia. Mais tarde outras balas de canhão acabariam por ferir um Administrador e partir várias janelas do palácio (uma delas quase vitimou a mãe e a irmã de Nicolau, Olga que estavam a poucos metros de distância de uma das janelas).  Apesar de tudo, o Imperador manteve a mesma  postura desde o inicio da cerimónia. Quando finalmente chegou ao palácio disse à sua irmã Olga: “Eu sabia que alguém me estava a tentar matar e limitei-me a fazer o sinal da cruz. O que mais podia fazer?”. A Grã-Duquesa comentou mais tarde que, “era típico do Nicky. Ele não sabia o que significava ter medo. Por outro lado, parecia que ele sempre tinha aceitado que acabaria por perder a vida.”

No dia 21 de Janeiro de 1905, um padre chamado George Gapon informou o governo de uma marcha que se realizaria no dia seguinte e perguntou se o czar estaria presente para receber uma petição. Os ministros reuniram-se apressadamente para ponderar sobre o assunto. Nunca se pensou que o czar, que estava em Czarskoe Selo e não tinha sido informado de nenhuma marcha nem petição, iria realmente receber Gapon. A sugestão de que outro membro da família imperial deveria receber a petição foi também rejeitada. Por fim, informado de que tinha poucos meios para travar a marcha e prender Gapon, o novo ministro do interior e os seus colegas não pensaram em mais nada senão chamar tropas adicionais à cidade e esperar que nada se descontrolasse.

Domingo Sangrento

Nessa noite, Nicolau soube pela primeira vez por esse ministro o que iria acontecer no dia seguinte e escreveu no seu diário, “As tropas foram trazidas de fora da cidade para apoiar as locais. Até agora os trabalhadores têm-se mantido calmos.  Em estimativa são cerca de 120,000. A chefiar a sua união está uma espécie de padre socialista chamado Gapon. O Mirsky (ministro do interior) veio encontrar-se comigo esta noite para me apresentar o seu relatório sobre as medidas a ser tomadas.”

No dia seguinte aconteceria o trágico “Domingo Sangrento” onde milhares de manifestantes foram mortos pelas tropas do czar que guardavam o Palácio de Inverno.

Em Czarskoe Selo, Nicolau ficou chocado quando soube o que tinha acontecido e escreveu no seu diário, “Um dia doloroso. Desordens sérias aconteceram em São Petersburgo quando os trabalhadores tentaram entrar no Palácio de Inverno. As tropas foram forçadas a disparar em várias partes da cidade e há muitos feridos e mortos. Senhor, quão doloroso e triste isto é.
O “Domingo Sangrento” tornou-se num ponto de viragem na História Russa. Abalou irremediavelmente a antiga crença de que o povo e czar eram um só. Enquanto as balas faziam ricochete nos seus ícones, retratos e bandeiras de Nicolau II, as pessoas gritavam que o czar não as iria ajudar. Fora da Rússia, mo futuro Primeiro-Ministro trabalhista britânico, Ramsay MacDonald atacou o czar, chamando-o de “criatura coberta de sangue” e “assassino banal”.

Domingo Sangrento

A Grã Duquesa Olga Alexandrovna descreveu o que aconteceu nesse dia com o seu irmão, “O Nicky recebeu o relatório político alguns dias antes. Naquele Domingo ele telefonou à minha mãe e disse-lhe que ambas tínhamos de abandonar Gatchina depressa. Ele e a Alicky (Alexandra) foram para Czarskoe Selo. Que me lembre o meu tio Vladimir e o meu tio Nicolau eram os únicos membros da família que restavam em São Petersburgo, mas talvez houvesse outros. Na altura senti que todas as medidas tomadas estavam tremendamente erradas. Os ministros do Nicky e o Chefe da Polícia fizeram tudo à maneira deles. A minha mãe e eu queríamos ficar em São Petersburgo e enfrentar a multidão. Tenho a certeza de que, pelos grotescos modos de alguns dos trabalhadores, a presença do Nicky teria acalmado os ânimos. Eles teriam entregue a sua petição e voltado para casa, mas aquele acontecimento quase Epifânio deixou todos os guardas em estado de pânico. Eles estavam sempre a dizer ao Nicky que ele não tinha o direito de correr tamanho risco, que o país merecia que ele saísse da capital, que mesmo com as melhores medidas de protecção haveria sempre perigo. A minha mãe e eu fizemos os possíveis para o persuadir de que os conselhos dos ministros estavam errados, mas o Nicky preferiu segui-los e foi o primeiro a arrepender-se quando soube as trágicas consequências.”

Sob pressão depois da tentativa da chamada Revolução Russa de 1905, Nicolau II concordou com a formação de uma espécie de parlamento, a Duma, que inicialmente se pensava ser apenas um órgão de aconselhamento. A irmã do czar escreveu: “Todos estavam em baixo em Czarskoe Selo. Eu não percebia nada de política, apenas senti que tudo estava a correr mal com o país e com todos nós. A constituição de Outubro não parecia satisfazer ninguém. Fui com a minha mãe à primeira Duma. Lembro-me do grande número de deputados que vieram dos camponeses e do operariado. Os camponeses pareciam zangados, mas os operários eram ainda piores: eles olhavam-nos como se nos odiassem. Lembro-me da agonia nos olhos da Alexandra.” O Ministro da Corte, o Conde Fredericks, comentou, “Os deputados dão a impressão de um grupo de criminosos que estão apenas à espera do sinal para se atirarem aos ministros e cortar-lhes a garganta. Eu nunca mais me vou juntar a estas pessoas.” A mãe do czar reparou no “ódio incompreensível”.

Nicolau II dirige-se à Duma
No manifesto de Outubro, o czar anunciou introduzir liberdades cívicas, providenciar grande participação nas discussões da Duma e imbui-la de poderes legislativos. Contudo, determinado a preservar a “autocracia” mesmo durante um contexto de reforma, ele restringiu a autoridade da Duma em muitos sentidos.

A relação de Nicolau com a Duma não era boa. A primeira Duma entrou quase imediatamente em confronto com ele, exigindo sufrágio universal, reformas laborais radicais, a libertação de todos os prisioneiros políticos e o despedimento dos ministros nomeados pelo czar por ministros escolhidos pela própria Duma. Apesar de inicialmente Nicolau ter uma boa relação com o seu Primeiro-Ministro, Sergei Witte, Alexandra não confiava nele (devido ao facto de este ter ordenado uma investigação a Rasputin), e, à medida que a situação política se deteriorava, Nicolau decidiu dissolver a Duma.

A Duma era populada por radicais, muitos dos quais queriam mudar profundamente a legislação que abolia o direito a propriedade privada entre outras coisas. Witte, incapaz de resolver os aparentemente irremediáveis problemas de conduzir uma reforma na Rússia e na monarquia, escreveu ao czar no dia 14 de Abril de 1906, demitindo-se do seu posto (outros dizem que este foi forçado a demitir-se pelo Imperador).

Sergei Witte

Uma segunda Duma reuniu-se pela primeira vez em Fevereiro de 1907. Os partidos de esquerda, incluindo os Sociais Democratas e os Socialistas Revolucionários que tinham boicotado a primeira Dume, tinham ganho 200 lugares na segunda, mais de um terço de todos os participantes.  Novamente Nicolau esperou impacientemente para se livrar da Duma. Em duas cartas que escreveu à sua mãe, ele confessou o seu ressentimento, “Uma comitiva grotesca está a chegar da Inglaterra para se encontrar com os membros liberais da Duma. O tio Bertie informou-nos de que eles pediam desculpa, mas não podiam fazer nada para impedir a vinda deles. A sua famosa “liberdade”, claro. Quão zangados ficariam eles se nós enviássemos uma comitiva à Irlanda para lhes desejar sucesso na luta deles contra o governo?” Um pouco mais tarde, Nicolau escreveu, “Todos estariam felizes se tudo dito na Duma não saísse das suas paredes. No entanto cada palavra lá proferida aparece em todos os jornais no dia seguinte e estes são lidos avidamente por todos. Em muitos lugares a população está a agitar-se novamente. Eles começaram a falar sobre terra outra vez e estão à espera para ver o que a Duma vai dizer sobre esta questão. Estou a receber telegramas de todo o lado, a pedir-me que a dissolva, mas é demasiado cedo para isso. Temos de esperar que eles façam algo estúpido ou maléfico e depois – bam! E eles desaparecem!”

Depois da dissolução da segunda Duma em circunstâncias semelhantes, o novo Primeiro-Ministro, Pyotr Stolypin (que Witte descreveu como “reaccionário), mudou as leis eleitorais de forma a permitir que futuras Dumas fossem mais conservadoras e dominadas pelo partido conservador-liberal de Alexander Guchkov.

Stolypin, um brilhante político, tinha planos ambiciosos de reforma. Estes incluíam disponibilizar empréstimos para classes inferiores de modo a permitir que estes comprassem terra e, assim, criar uma classe camponesa leal à coroa.

Pyotr Stolypin



música: The Hours - "Love You More"

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SEGUNDA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2008
Projecto de Verão
      Agora que as férias estão próximas (assim que acabarem os exames, mais especificamente) decidi, (já que nunca há muito que fazer) começar o projecto de criar o primeiro blog português sobre os Romanov, a última família imperial russa executada em Julho de 1918, mais conhecida por um dos seus membros (Anastasia) ter sido protagonista de um dos maiores mistérios do século XX. Não é algo que interesse a muita gente, mas, cá para mim, gosto de acreditar que algum dia isto se vá tornar útil para alguém!
     Durante esta semana e a próxima o mais provavel é que isto ande parado, mas assim que estiver pronto, vai ser uma boa fonte de informação (espero eu). Até lá fica uma fotografia da família para começar a conhecê-la:

(da esquerda para a direita) Tatiana, Anastasia, Maria, Olga, Nicolau II,  Alexandra Fyodorovna e Alexis



música: Rogue Wave - Eyes

publicado por tuga9890 às 17:06
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