segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

BARBOSA


Barbosa

Moacyr Barbosa, goleiro da Seleção Brasileira em 1950
 
"Eu já pensei naquela bola um milhão de vezes".

A confissão é de Moacyr Barbosa, em 1988, goleiro da Seleção Brasileira na Copa de 1950. Bode expiatório da derrota do Brasil para o Uruguai num Maracanã com mais de 200 mil pessoas, Barbosa me dá uma profunda e amarga vontade de chorar.

De fato chorei na primeira vez em que assisti ao curta-metragem sobre o goleiro, produzido por Jorge Furtado em 1988. Na trama que mistura documentário e ficção, o garoto/adulto interpretado por Antônio Fagundes constrói uma máquina do tempo com o objetivo de mudar o trágico desfecho do que ficou conhecido como Maracanazo.

Uma bola de Giggia entre a trave e o goleiro, e o título tão anunciado antes da hora por dezenas de autoridades e jornalistas escapa das mãos sem luvas do povo brasileiro.

Porque uma derrota ocorrida 34 anos antes de eu nascer ainda dói em mim jamais conseguirei entender, mas me explica totalmente.

Explica o arrepiar do meu corpo quando venço as imensas estruturas de concreto externas dos estádios de futebol e, já na arquibancada, vejo aquele retângulo verde hipnotizante; o abraçar sincero ao desconhecido ao lado no segundo do gol e o sorriso ao sentir as cores, cantos e batuques das torcidas; o tamanho da minha ansiedade ao contemplar o Estádio Nacional de Brasília ganhar forma.

Barbosa incomoda. Sua tragédia é o exemplo acabado da faceta cruel e silenciosa da catarse futebolística. Ao mesmo tempo em que desperta nossa vontade duradoura de "entrar numa cratera e desaparecer" (palavras dele), reforça o sentimento violento de gozo na alegria fugaz da vitória.

Ele morreu em 2000. Uma conversa num boteco era tudo o que eu queria. Uma oportunidade de ouvi-lo falar sobre família, amigos, religião, política e futebol. Uma chance de abraçá-lo.

Eu já pensei em Barbosa um milhão de vezes.

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