quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

SABIA LARANJEIRA


sabiá-laranjeira [Turdus rufiventris (Vieillot, 1818)] é uma ave muito comum naAmérica do Sul e o mais conhecido de todos os sabiás, identificado pela cor de ferrugem do ventre e por seu canto melodioso durante o período reprodutivo.[1] É popular especialmente no Brasil, tendo se tornado por lei, em 2002, a ave-símbolo do país[2] Já era símbolo do estado de São Paulo desde 1966.[3] É citada por diversos poetas como o pássaro que canta o amor e a primavera.[4] A ave também está presente no emblema oficial da Copa das Confederações de 2013, que será realizada no Brasil.[5]

Índice

  [esconder

[editar]Taxonomia, denominação popular e ocorrência

Pertence à ordem Passeriformes e à família Turdidae, que migrou da Europa para aAmérica há cerca de 20 milhões de anos.[6] A denominação científica da espécie éTurdus rufiventris, tendo sido descrito pela primeira vez por Louis Jean Pierre Vieillot em 1818.[7] Foram descritas duas subespéciesTurdus rufiventris rufiventris e Turdus rufiventris juensis.[8]
O nome sabiá deriva do tupi haabi'á.[9] No Brasil tem uma quantidade de denominações populares, entre elas sabiá-cavalo, sabiá-ponga, piranga, ponga, sabiá-coca, sabiá-de-barriga-vermelha, sabiá-gongá, sabiá-laranja, sabiá-piranga, sabiá-poca, sabiá-amarelo, sabiá-vermelho ou sabiá-de-peito-roxo. Em espanhol é conhecido como tordo de vientre rufo, zorzal colorado, zorzal común.[1][8][9]
É nativo da ArgentinaBolíviaBrasilParaguai e Uruguai,[7] com uma ampla área de ocorrência que vai do nordeste do Brasil até o sul da Bolívia e norte-leste da Argentina. Não ocorre na Bacia Amazônica.[10] Sua população é considerada estável mas não foi quantificada, e é descrito como uma ave comum. Por isso a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais a classificou como espécie em condição pouco preocupante.[7]

[editar]Descrição

Este sabiá mede de 24 a 25 cm de comprimento, tem o bico reto de cor amarelo-oliva, as patas cinza, o olho negro circundado finamente de amarelo e a penugem do dorso de um tom uniforme marrom-acinzentado. A garganta é esbranquiçada rajada de marrom, o peito é cinza-pardo, que vai mudando para um alaranjado opaco no ventre. Não há dimorfismo sexual significativo, mas as fêmeas tendem a ser maiores que os machos e um pouco mais claras no ventre.[1][11] A existência de colorações aberrantes, incluindo albinismo, não é rara, mas é pouco citada na literatura. A causa disso não é bem esclarecida, mas pode estar ligada a alterações no seu meio ambiente ou mutações genéticas.[12]

[editar]Ecologia e biologia

Habita originalmente florestas abertas e beiras de campos,[11] mas como é uma espécie bastante adaptável[13] penetrou com sucesso nas áreas de lavoura e cidades, exigindo porém a proximidade de água. É visto com frequência percorrendo o solo, mas nunca longe das árvores.[11] É uma ave territorial mas relativamente tímida, e seu canto melodioso, aflautado e frequente logo denuncia sua presença, podendo ser ouvido a mais de 1 km de distância. Seu canto é longo, podendo durar até dois minutos sem interrupção. A frase principal tem de 10 a 15 notas, mas ele é capaz de imitar as vocalizações de outras aves como o curiango e o joão-de-barro e assimilar trechos em seu próprio canto, em inúmeras variações. Canta principalmente no período reprodutivo, antes do amanhecer e ao anoitecer, para atrair a fêmea e demarcar seu território.[1][2]
O ninho é feito entre setembro e janeiro em arbustos, árvores de folhagem densa e cachos de banana, empregando fibras e gravetos ligadas por um pouco de lama, num formato de tigela funda. Por dentro são revestidos de materiais mais macios como hastes de flores e capim. Põe de 3 a 4 ovos verde-azulados pintados de sépia, que medem 28 x 21 mm.[1][14] Os filhotes nascem após treze dias de choco, recebendo atenção de ambos os pais. Em três semanas podem deixar o ninho.[2] Cada fêmea choca três vezes por ano e pode gerar até 6 filhotes por temporada.[1] O sabiá-laranjeira vive em torno de trinta anos.[2]
Sua nutrição se compõe basicamente de artrópodeslarvasminhocas e frutas maduras.[14] Pode se tornar um predador importante de sapos e rãs logo que deixam a fase de girino.[15] É um importante dispersor de sementes das espécies frutíferas que consome, pois ou regurgita as sementes em outros locais ou elas saem em suas fezes fertilizantes e com isso se tornam mais aptas à germinação.[16][17] Como outras espécies de sua família, pode se reunir em bandos mistos que empregam diferentes estratégias para melhorar suas chances de boa alimentação, o que lhe confere uma vantagem adaptativa para ocupação de áreas degradadas e urbanas.[6]
Não há na literatura especializada muitos registros de inimigos naturais do sabiá-laranjeira, mas já foi observado que o tucanoRamphastos dicolorus preda jovens e até exemplares adultos.[18] Em meio urbano o gato doméstico é um importante predador.[12] Em algumas regiões está ameaçado pela destruição do habitat e pelo tráfico de animais silvestres.[19]

[editar]Importância cultural

Um sabiá-laranjeira cantando
É uma das aves mais populares do Brasil, sendo uma presença comum em seu folclore e mesmo na cultura erudita, tendo sido por isso escolhida como seu símbolo em 2002.[2][12]De acordo com o ornitólogo Johan Dalgas Frisch, um dos principais defensores da nomeação, ela se justifica porque este sabiá é conhecido por crianças e adultos, é comum nas zonas rurais povoadas e nas cidades, e por isso é sentido como uma ave familiar por grande parte da população, e porque "tem qualidades impares. Não existem dois sabiás que cantem da mesma maneira.... os sons maravilhosos do sabiá desabrocham nos jovens corações veios poéticos, tão puros e belos como se um cego abrisse seus olhos ao ver a luz e as cores das flores na terra.... uma lenda indígena assegura que quando uma criança ouve, durante a madrugada, no início da Primavera, o canto do sabiá, será abençoada com muita paz, amor e felicidade".[20] Em ofício ao presidente Fernando Henrique Cardoso, a comissão de ministros encarregada da escolha justificou-se dizendo que o sabiá-laranjeira tem larga distribuição nacional e porque é, dentre as aves, "a mais inspiradora e, conseqüentemente, a mais aclamada e decantada pelo sentimento popular e cultural". Em pesquisa de opinião realizada pelo jornal Folha do Meio Ambiente 91,7% dos entrevistados manifestou seu apoio à decisão.[21]
Na literatura é frequentemente citado como o pássaro que canta o amor e a primavera,[4] as origens, a terra natal, a infância, as coisas boas da vida,[22] sendo imortalizado por Gonçalves Dias na abertura de seu célebre poema Canção do Exílio:[4]
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Chico Buarque escreveu em 1968 em conjunto com Tom Jobim uma canção onde o sabiá também figura em destaque, embora ali a ave apareça com o gênero feminino, o que, segundo o autor, deriva dos usos dos caçadores.[23] Segue a primeira estrofe:
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Cantar uma sabiá.[24]
Outros autores famosos também deram ao sabiá-laranjeira notoriedade artística, como Carlos Drummond de Andrade[25]Jorge Amado.[4] Luiz GonzagaMilton Nascimento e Patativa do Assaré.[22] Como sua cantoria é muito apreciada, tornou-se uma ave de estimação e pode ser criado em cativeiro com sucesso. Precisa de gaiolas grandes e não tolera bem mudanças em suas instalações, podendo, se ocorrerem, apresentar distúrbios de comportamento e desenvolver pânico, que podem levar à sua morte.[2]. Note-se que no Brasil constitui crime a manutenção e/ou criação de animais silvestres em cativeiro sem a devida licença do IBAMA.





  • Ouça o canto do sabiá-laranjeira:

Nenhum comentário:

Postar um comentário