quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

CAÇADORES DE TORNADOS



Os furgões são como uma mancha de tinta branca que passa acelerando pela estrada, a uma velocidade de 145 km/h. Não são veículos da polícia. Não são ambulâncias. Mas ainda assim estão reagindo ao que a natureza pode provocar de pior.
Estamos falando dos caçadores de tornados, os paparazzi das tempestades. O alvo desta tarde é uma supercélula no extremo oeste do Oklahoma que poderia gerar um EF2 (o jargão designa um tornado forte na escala Enhanced Fujita, usada para a mensuração desse tipo de tempestade).
As rodovias parecem receber número cada vez maior de caçadores de tornados que tentam se superar em uma arriscada corrida para registrar as tempestades; alguns deles já morreram em função disso. Embora não haja maneira precisa de estimar seus números, os caçadores de tornados veteranos que cruzam a região centro-oeste dos Estados Unidos calculam que cheguem aos milhares, possivelmente até às dezenas de milhares. E também estimam que, há 15 anos, o número não ultrapassasse umas poucas centenas.
"O movimento cresceu bastante. Porque os dados estão disponíveis para qualquer interessado, pode-se essencialmente obter dados de radar em tempo real no veículo em que a pessoa estiver, pelo preço de uma conexão sem fio via satélite", diz Harold Brooks, meteorologista do Laboratório de Tempestades Severas, em Oklahoma, uma unidade da Administração Nacional da Atmosfera e Oceano (NOAA).
As motivações dos caçadores de tornado variam. Alguns deles são cientistas que esperam conseguir uma compreensão mais perfeita dos tornados. Outros são guias de turismo registrados que recebem honorários de milhares de dólares para conduzir turistas que buscam emoções em aventuras muito perigosas. Muitos, porém, são apenas viciados em adrenalinas equipados com pouco mais que celulares sofisticados ou laptops dotados de conexão sem fio.
Os mais afortunados conseguem capturar uma foto ou vídeo do tornado e vendê-la por US$ 50 ou US$ 100 a uma estação de TV ou revista; os menos afortunados acabam envolvidos em colisões com seus utilitários e não conseguem nem mesmo ver a tempestade.
"A emoção da perseguição... é isso que entusiasma", diz Tiffany Crumrine, 37, que é parte da turma que está tentando seguir a supercélula EF2; se diz cansada de ver as nuvens em formato de funil apenas na TV. Qualquer tempestade que surja na região das grandes planícies do centro-oeste norte-americano costuma atrair 15, 20 ou 30 veículos que tentam segui-la.
"Hoje em dia temos tantos caçadores que é difícil chegar onde precisamos, e isso pode ser um problema", diz Greg Forbes, especialista em fenômenos climáticos severos do Weather Channel, que muitas vezes conversa com cientistas que tiveram seu trabalho prejudicado por uma multidão de caçadores de tempestades que impedem que eles sigam um tornado. "E se um tornado atingir alguma coisa, quando houver tamanho número de carros em torno? Torna mais difícil que os administradores dos serviços de emergência realizem o seu trabalho".
Pelo menos três pessoas morreram desde 1999 em perseguição de tornados ou ao observar tempestades para organizações meteorológicas, de acordo com a Associação Nacional dos Caçadores e Observadores de Tempestades.
Scott Blair, um caçador de tornados que vive em Topeka, Kansas, diz ter percebido que há pais que levam suas crianças com eles enquanto perseguem tornados, enquanto outros se aproximam a distâncias de apenas 100 metros de uma tempestade.
Até mesmo os meteorologistas altamente treinados do Laboratório de Tempestades Severas ou do Centro de Previsão de Tempestades que lhe é adjacente costumam seguir tornados em geral de seus laboratórios nessas organizações governamentais. Ocasionalmente, alguns deles saem em campo para recolher dados sobre a formação de tempestades e podem sair depois que surge uma tempestade a fim de determinar sua severidade e reconstituir o percurso que ela seguiu.
"Ninguém tem emprego como caçador de tornados", diz Brooks. "Talvez em 5% das ocasiões temos pessoas aqui que podem estar envolvidas em interceptações de tornados".
Na metade do dia da terça-feira, os caçadores que acompanhavam a supercélula estavam esperando que ela mantivesse a tendência das mais de duas dúzias de tornados surgidos no dia anterior. Mesmo que duas pessoas tenham morrido nessas tempestades, a ansiedade dos paparazzi por estarem o mais perto possível dos acontecimentos é palpável.
Os motoristas empregam intercomunicadores para espalhar avisos sobre radares de medição de velocidade; um dos motoristas diz que em Oklahoma, se pode dirigir de 15 km/h a 25 km/h acima do limite, e se vangloria de que persegue tornados em velocidades ainda mais elevadas no Wyoming e Colorado.
Fazendo um pit stop para encher o tanque, Chris Kridler está parada ao lado de seu Honda Element cuja placa é "2 OZ". Kridler vive na Flórida mas visita a região que serve como epicentro aos tornados a cada ano, desde 1997, equipada apenas com uma câmera de vídeo simples.
Para ela, caçar tornados se tornou uma tendência perigosa entre pessoas que assistiram ao filme Twister mais vezes do que deveriam. Ela se preocupa por os caçadores mais novos estarem mal equipados para enfrentar o clima adverso, e pelos riscos que assumem, perante os quais colegas mais experientes certamente optariam pela cautela.
"Eles ficam pensando que é preciso entrar com o carro no tornado", diz Kridler, "e é assim que as pessoas terminam morrendo". São pouco menos de 16h, e os paparazzi dos tornados estão à espera em outra cidade empoeirada à beira da rodovia estadual, antecipando que forma a tempestade tomará. Entre eles está Daniel Shaw, que vem da Austrália aos Estados Unidos para perseguir tornados.
"Há alguma coisa nos Estados Unidos e em seus sistemas de tempestades que resulta na criação de monstros como esses", diz. "Na Austrália simplesmente não existem coisas assim. Suponho que seja estranho - vir à América só para ver uma tempestade é uma viagem longa, mas aquilo que vocês têm por aqui é realmente incrível".
Às 17h18min, a caravana corre para o ponto em que o céu parece mais escuro. Dentro de poucos minutos fica aparente que a supercélula não vai gerar o EF2 tão esperado; as nuvens ameaçadoras se dispersam rapidamente. O sol brilha entre as nuvens. Não haverá tornado hoje.

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