Ao completar 20 anos, recebi como presente um livro do Rubens Filguth chamado “A importância do xadrez”. Este livro é uma compilação de alguns estudos voltados aos benefícios do xadrez a pessoas de todas as idades, sob um enfoque bastante científico, feitos por profissionais da educação, pedagogia, psicologia, sociologia, etc. – ou seja, nada de suposições tecidas por competidores profissionais à partir de sua experiência prática singular.
Escolhi um trecho do livro para publicar aqui e, embora seja um tanto lugar-comum, enumera precisamente as habilidades cognitivas aprimoradas pela prática do xadrez. Ao ir mais além no livro acreditei facilmente nas conclusões dos estudos, mas não fica claro uma circunstância muito importante: para que haja um real desenvolvimento por meio do xadrez é preciso haver competição.
Há alguns meses fui chamado para uma entrevista no Colégio Energia de Jurerê, para atuar como professor de xadrez. Na verdade, certamente o que o colégio queria era um professor que fingisse que ensinasse xadrez para vender a tal aula para os pais dos alunos, pois a aula consistia em um reforço às aulas de matemática (?), não em parte da educação desportiva dos alunos. Até agora não li nada que afirmasse isso no livro, mas afirmo sem dúvida alguma: o xadrez só traz benefícios em proporções significativas quando é usado em ambiente competitivo. Como jogo, que expõe o jogador à dor da derrota e oferece a satisfação da vitória, o xadrez estimula o praticante a tornar-se cada vez mais hábil e preparado (psicologicamente) para as difíceis situações de competição. Abaixo, o trecho do livro que fala dos “benefícios acadêmicos” do xadrez:
“Segundo palavras de Myers, ‘nós trouxemos o xadrez para as escolas porque acreditamos que contribui diretamente com o desempenho acadêmico. O xadrez torna as crianças mais inteligentes’. Faz isso ensinando as seguintes habilidades:
Focalização - As crianças são instruídas sobre os benefícios de observar cuidadosamente e concentrar-se. Se não observarem o que está acontecendo, elas não podem responder às questões, não importa quão inteligentes sejam.
Visualização - As crianças são estimuladas a imaginar uma sucessão de ações antes que elas aconteçam. Na verdade, no xadrez fortalecemos a habilidade de visualização trocando as peças mentalmente, primeiro um, depois vários movimentos à frente.
Previsão - As crianças são ensinadas a pensar primeiro, e então agir. Nós lhes ensinamos a perguntar-se ‘se eu fizer isso, o que pode acontecer depois, e como posso responder?’. Com o passar do tempo, o xadrez ajuda a desenvolver a paciência e a atenção.
Avaliação de opções - As crianças aprendem a não fazer a primeira coisa que surge em suas mentes. Aprendem a identificar alternativas e a considerar os prós e os contras de várias ações.
Análise concreta - Os jogadores aprendem a avaliar os resultados de ações específicas e sequências de ações – ‘esta sequência me ajuda ou me prejudica?’. Decisões são melhores quando guiadas pela lógica, em vez do impulso.
Pensamento abstrato - Os aprendizes são ensinados a, periodicamente, deixar de lado os detalhes e considerar o quadro maior. Também aprendem a transpor padrões usados em um contexto para situações diferentes, mas relacionadas.
Planejamento – As crianças são ensinadas a desenvolver metas de objetivos mais longos e dar os passos necessários para concretizá-los. Elas também são ensinadas sobre a necessidade de reavaliar seus planos de acordo com novos desenvolvimentos que alterem a situação.
Trabalho com considerações múltiplas simultâneas - Os alunos são incentivados a não se deixarem absorver demais em apenas uma consideração, mas a tentar pesar diversos fatores, todos de uma vez.
Nenhuma dessas habilidades é específica do xadrez, mas elas são, todas, parte do jogo. A beleza do xadrez como ferramenta pedagógica é que estimula as mentes infantis e as ajuda a construir essas habilidades enquanto estão se divertindo [para mim, o que faz a diversão do jogo é justamente a subversão do velho e inadequado lema "o importante é competir" (?). O importante é vencer – porém sem deixar de lidar com os resultados dignamente. É competindo pra valer que o jogo é realmente divertido, e é com essa visão que faz-se possível desenvolver altas habilidades no xadrez - D.B.]. Como resultado, as crianças se tornam pensadoras mais críticas, resolvem melhor os problemas e produzem decisões mais independentes.”
Fonte: xadrezdojo
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