Ruínas da “sinagoga de Jesus” intrigam arqueólogos
por Jarbas Aragão
Durante
milênios, o nome de Maria Madalena lembra aos cristãos de uma
prostituta. Porém, a Bíblia nunca disse que essa seguidora de Jesus
fazia comércio sexual. Relata apenas que ela fora possuída por sete
demônios e que foi a primeira pessoa a ver o Cristo ressuscitado.
Nos
últimos anos, escavações arqueológicas em Magdala, cidade da qual
deriva o “sobrenome” de Maria revelaram o que arqueólogos acreditam ser
uma sinagoga do primeiro século, que o próprio Jesus teria visitado. Uma
grande mudança para esta pequena aldeia na costa noroeste do mar da
Galileia e junto ao Monte Arbel.
Judeus
e cristãos se uniram na tentativa de resgatar mais a história desta que
é considerada por alguns estudiosos como a “sinagoga de Jesus”, pois
alguns especialistas acreditam que Cristo de fato esteve ali durante
seus anos na terra. Novas polêmicas sobre o assunto foram mencionadas
na edição do último domingo do jornal israelense Haaretz.
Magdala
fica na antiga Galileia, distando apenas sete quilômetros da antiga
Cafarnaum, uma das cidades onde Jesus se estabeleceu durante o tempo de
seu ministério público, e seguramente alguma vez se encontrou ali para
pregar e ensinar. Nos primeiros anos do cristianismo, a maioria dos
cristãos eram judeus convertidos que continuavam frequentando as
sinagogas. Segundo historiadores, essa realidade só mudou perto do ano
70, após a destruição do templo de Jerusalém. Só então houve uma
separação mais clara, pois os cristãos passaram a ter seus próprios
lugares de reunião e de culto.
A
cidade de Magdala tem algumas característica únicas, sendo um dos mais
bem conservados sítios arqueológicos de Israel. No ano 67, a cidade foi
sitiada pelos romanos comandados pelo general Tito, que a tomou após uma
batalha sangrenta e três anos mais tarde invadiu Jerusalém, numa
batalha que ocasionou a destruição do Templo de Salomão.
As
escavações na região de Magdala são lideradas pela arqueóloga judia
Dina Avshalom-Gorni e a arqueóloga muçulmana Arfan Najar, ambas da
Autoridade de Antiguidades de Israel, além, de Marcela Zapata, da
Universidade Anáhuac do Sul, da Cidade do México
Desde
2004 a instituição católica os Legionários de Cristo vem construindo
nas proximidades o “Centro Magdala”, que funcionará como igreja, hotel
para os peregrinos e um museu com ênfase nas mulheres da Bíblia. O padre
Juan Solana, diretor do centro, explica que isso se justifica pois
Maria Madalena é a mulher mais mencionada no Novo Testamento depois de
Maria, mãe de Jesus.
Maria,
a seguidora de Jesus, pode ter sido uma moradora influente na cidade,
explica a estudiosa Mary R. Thompson. As novas escavações que revelaram
as ruinas desse local de culto poderão confirmar isso. Trata-se da mais
antiga sinagoga da Galileia, uma dos poucas do país datadas do primeiro
século da era cristã.
As
ruinas do local mostram que era um pequeno salão, de 11 x 11 metros,
que devia reunir cerca de 100 pessoas. Nele foram encontradas vários
painéis e inclusive uma rara moeda datada do ano 29 d.C. Sem dúvida, seu
maior achado foi uma pequena mesa de pedra, com quatro pés e uma série
de relevos, incluindo um menorá [candelabro de sete hastes]. Trata-se do
primeiro registro de um menorá encontrado fora de Jerusalém.
De
acordo com Najar, a mesa de pedra tem furos na parte superior que
serviam de apoio para uma estrutura de madeira, onde os rolos da Torá
eram colocados para leitura. Isso pode ensinar muito como a Torá era
lido nas sinagogas antigas.
As
estruturas das paredes, com as seis colunas que sustentavam o teto,
estavam cobertos com afrescos pintados em sete cores diferentes. A
escavação revelou que a sinagoga foi renovado entre os anos 40 e 50, e
abandonada antes de 68 d.C., época da Grande Revolta dos judeus contra
os romanos. Um dos aspectos mais curiosos é que os restos da estrutura
foram encontrados a cerca 50 centímetros abaixo do solo, e nenhuma outra
cidade aparentemente foi sido construída sobre a antiga vila de
pescadores durante os últimos dois milênios.
Segundo
a arqueóloga Dina Gorni, “o achado foi uma espécie de milagre…
estávamos apenas escavando aqui como medida de precaução antes que se
iniciasse um projeto de construção [do centro Magdala]. Acreditamos que
era um local especial… Esta comunidade queria fazer um local religioso
diferente. Eles fizeram muitos investimentos para as decorações, e um
altar com uma pedra especial”. Por isso, a mesa que ficaria no centro do
altar da sinagoga passou a ser chamada de “pedra de Magdala”.
Embora
as escrituras não relatem que Jesus tenha ido até Magdala, o padre
Solana diz que a descoberta pode sugerir isso. “Do ponto de vista
judaico, a posição é clara. Trata-se de uma sinagoga do século primeiro,
lindamente decorada, com peças de arte e um altar como nunca foi
encontrado em qualquer outra sinagoga da época. Do ponto de vista
cristão, não podemos duvidar de que Jesus esteve ali por algum tempo. As
primeiras comunidades cristãs se reuniam nas sinagogas. Eles eram
judeus observantes”, defende.
Existem
vários aspectos distintivos dessa sinagoga: ficava fora do centro,
reunia poucas pessoas em comparação com as outras casas de culto da
cidade, a riqueza da decoração e a presença de um menorá que só era
usado na capital. Tudo isso corrobora com a ideia de que a sinagoga
pertenceria a uma pequena “seita do exterior”, que daria grande
importância à vida espiritual comunitária. Seria eles membros da
primeira sinagoga de judeus convertidos ao cristianismo? “É provável que
as pessoas que usaram esta sinagoga foram testemunhas da multiplicação
dos pães e outros milagres descritos nos quatro Evangelhos”, esclarece o
vídeo promocional em MagdalaCenter.com.
O
antigo historiador Josefo referia-se a Magdala como a cidade de
Tarichae, que em grego significa, em tradução livre, “o lugar de salgar
peixe”. Um nome apropriado, considerando uma das descobertas
interessantes em Magdala. Trata-se de um complexo único, com quatro
pequenas piscinas. Mais do que uma aldeia de pescadores, a cidade pode
ter sido a primeira de Israel a desenvolver a piscicultura, onde os
peixes criados nas piscinas eram salgados e preparados para serem
vendidos nas aldeias vizinhas.
Essa
descoberta arqueológica é de grande interesse para o mundo judeu, como
comprovam as duas visitas de Shuka Dorfmann, diretor da Autoridade de
Antiguidades de Israel, que descreveu a descoberta como extraordinária,
única, e que deverá ser estudada em toda sua profundidade. Com informações Haaretz e The World.
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